Calle Ocho, espaço de integração latino-americana e de diversidade cultural que oferece mais do que charutos e rum.
Após a reaproximação entre Cuba e EUA, Little Havana é alvo dos holofotes internacionais pelos protestos contra a decisão de Washington, orquestrados pelos dissidentes da ilha caribenha. Como o local é a principal moradia da comunidade de cubano-americanos da Flórida, as mobilizações serviram para reforçar um estigma do bairro.
Dominó e café são principais esportes dos cubanos, brincam os locais.
A menos de 15 quilômetros da badalada Miami Beach resiste a Calle Ocho, núcleo de Little Havana. Na avenida, senhores se reúnem em praças para jogar dominó e vendedores de frutas, charutos, sorvetes, camisas de linho e outras especiarias da cultura cubana atraem os transeuntes com simpatia e bom papo. Ao contrário de outros bairros próximos – marcados pela segregação e criados exclusivamente para carros – Little Havana é um oásis de interação social e de ocupação do espaço público com ares de cidade de interior Miami.
Passear pela Calle Ocho é como voltar ao tempo ou frequentar um local alheio à realidade de Miami: aqui, os artistas são os principais astros das ruas com suas tonalidades vibrantes e cores quentes que singularizam o bairro. Exemplo disso são os irmãos Robert e Nelson Curras, responsáveis por criar o design da praça principal, a Domino Plaza, com uma série de mosaicos que vão se repetindo ao redor do bairro. Em cada peça de seus mosaicos é possível observar representações da cultura e da religião cubana com imagens que evocam símbolos da Santería e reverências a Orishas.
Little Havana também se abre para o clichê cubano de charutos e rum, atraindo turistas que buscam uma experiência para além de shoppings e grifes em Miami. No bairro, há mais de 20 lojas, fábricas e lounges para apreciar o fumo.
Além de charutos, é possível explorar Little Havana em seus cafezinhos com móveis antigos ao som de rumba e da salsa de Celia Cruz, ícone da cultura cubana homenageada em diversos grafites pelo bairro.
Um dos bares mais conhecidos nos guias turísticos é o Versailles, que reúne a nata republicana e de ultradireita de Little Havana. Contudo, moradores preferem indicar outros pontos turísticos para conhecer a diversidade do local, como a sorveteria Azúcar ou o Tower Theather, um dos cinemas mais antigos dos EUA, inaugurado em 1926.
Contudo, na medida em que Miami fica cada vez mais abarrotada de carros e condomínios residenciais luxuosos, a Prefeitura local tem apostado em projetos de construção de prédios cada vez maiores em Little Havana, frustrando os moradores, que temem os efeitos dessas ações.
Um dos endereços de resistência na contramão dessa tendência é, ironicamente, o McDonald’s da Calle Ocho. A filial da rede de fast-food norte-americana é a única no mundo que vende café cubano e tem sua fachada colorida assinada pelos irmãos Curras, após pressão dos moradores.
Muitos deles, entretanto, ressaltam que Little Havana não é mais um local estritamente cubano, mas sobretudo latino: nas últimas décadas, imigrantes vindos de Nicarágua, Honduras e México se mudaram para cá, trazendo novas cores e diversidade para o bairro.