A viagem de Walter Motta, de 78 anos, para o casamento de seu neto, Thiago, nos Estados Unidos tinha tudo para ser uma bela recordação no álbum da família, mas transformou-se no início de um pesadelo – e que ainda não terminou.
A cerimônia ocorreu em julho deste ano, e tanto o avô quanto o neto aproveitaram a festa. Mas, uma semana depois, ainda em Dallas, no Estado do Texas, Walter sofreu um ataque cardíaco.
Foi operado e liberado do hospital, mas dois dias depois voltou a sentir dores no peito e teve um segundo ataque, ainda mais forte. Ele está há três meses inconsciente, internado no centro de tratamento intensivo de um hospital da cidade, sem perspectiva de voltar ao Brasil.
Thiago explica que, no segundo infarto, o coração de seu avô ficou parado por mais de dez minutos, o que afetou seu cérebro, deixando ativa somente a região que controla as funções vitais.
Ele afirma que a família não tem como arcar com os custos de seu retorno e dos hospitais e vem buscando ajuda – até agora, sem sucesso – junto aos governos brasileiro e americano e a qualquer outra pessoa que, por meio de uma campanha online por doações, possa os ajudar.
“O problema é que, aqui, tudo na saúde é privado. Ele já fez três pontes de safena. Só de custos médicos, fui informado que devemos US$ 400 mil (R$ 1,52 milhão), e precisamos de US$ 30 mil para levá-lo para o Brasil com a ajuda de uma empresa especializada”, afirma Thiago.
“Agora, ele está recendo só cuidados básicos. Não temos mais condições de pagar médicos. Mas, no Brasil, ele tem plano de saúde.”
Thiago é um publicitário mineiro de Juiz de Fora que foi para os Estados Unidos estudar inglês há três anos.
No país, ele conheceu sua futura esposa, que é de Dallas. Estavam de casamento marcado para o dia 25 de julho. “Fui ficando até a cerimônia”, diz ele, que hoje trabalha como diretor de uma agência de publicidade na cidade.
O rapaz conta que seu avô havia sido liberado por seus médicos no Brasil para viajar. “Ele tem Parkinson, mas é bem saudável e independente. Ele se exercitava e fazia a própria comida”, afirma.
Os problemas cardíacos de Walter pegaram a família de surpresa – e os custos para tratá-los já superaram em muito os valores do seguro saúde contratado por Walter.
Em setembro, Thiago escreveu para a Presidência para pedir ajuda ao Itamaraty para levar seu avô de volta para o Brasil.
Pensava que o tempo de Walter como oficial da Aeronáutica poderia lhe garantir algum auxílio. Mas recebeu uma negativa do Ministério das Relações Exteriores.
“Eles disseram que meu avô deveria ter contratado um seguro e, quando respondi que isso havia sido feito, me falaram que deveríamos ter prestado atenção aos valores antes de contratá-lo”, afirma Thiago.
“Falaram ainda que, se fossem ajudar a um, teriam que ajudar a todos e me desejaram boa sorte.”
À BBC Brasil, o Itamaraty informou por nota que “não existe previsão orçamentária nem legal para o auxílio a tratamento médico de brasileiros no exterior”.
O hospital Methodist Charlton Medical Center, em Dallas, onde Walter está internado desde seu segundo infarto, informou que uma lei federal americana que regula a privacidade de pacientes – o Ato de Portabilidade e Responsabilidade de Seguros de Saúde, de 1996 – o proíbe de comentar o caso.
Thiago diz também já ter pedido ajuda ao governo americano e está sendo orientado por uma assistente social, mas ainda não obteve resposta. Planeja recorrer ao braço de caridade do hospital em seguida.
Enquanto isso, organiza uma campanha de doações online no site Gofundme para conseguir os dinheiro necessário para transportar seu avô para o Brasil em um voo comercial com a companhia de uma enfermeira.
Até agora, já foram doados US$ 2,3 mil pelo portal, que se somam aos US$ 7 mil que o seguro cobre para a repatriação de Walter e aos US$ 2 mil que a família conseguiu em doações no Brasil.
“Minha mãe voltou para casa para tentar levantar recursos para a viagem de retorno do meu avô”, diz Thiago.
“No Brasil, ele poderia receber tratamento. Queremos que ele volte com vida para fazer valer qualquer chance mínima que tenha de se recuperar.”
Fonte: G1 / BBC Brasil