Eles vieram em busca de melhores oportunidades, fixaram residência e hoje fazem parte de uma das maiores colônias brasileiras no exterior. São cerca de 350 mil na região de Boston, e, agora, mais que melhores condições de trabalho, querem representatividade política. Para isso, foi criado o movimento Nós Votamos, que quer chegar a dez mil nomes cadastrados até novembro, quando será escolhido o novo presidente americano. Nesta eleição, terão a chance de conseguir uma representante: a brasileira Ilma Paixão é candidata a deputada estadual.
— Nosso peso político não reflete nosso peso econômico — diz o advogado Antonio Massa Souza, um dos organizadores do movimento.
Ele afirma que o potencial de brasileiros que votam na região é de 50 mil eleitores. No passado, o Nós Votamos cadastrou cinco mil nomes, mas a lista está sendo revista. Para ter direito a participar do processo eleitoral, o imigrante precisa ter a cidadania americana.
— Podemos ser o que foi a comunidade irlandesa há 50 anos — diz Souza, lembrando que o movimento começou em 2011, em resposta à lei do Arizona que dava poder à polícia estadual de checar a situação migratória das pessoas na rua, e que acabou sendo derrubada na Suprema Corte.
O maior desafio é vencer o imobilismo. A comunidade brasileira não tem grande interesse em política.
— Abordamos os brasileiros e questionamos se eles querem se cadastrar como eleitores. A reação, quase sempre, é a mesma: “mas para que, se aqui o voto não é obrigatório?” — conta Thalita Dias, ativista da Coalizão de Defesa de Imigrantes e Refugiados de Massachusetts (Mira, na sigla em inglês).
Outros veem avanços:
— A consciência política tem aumentado, mas em polos ainda isolados — afirma Pablo Maia, há 17 anos na região e membro do conselho municipal.
A colônia poderá ter representante no Parlamento estadual. Ilma Paixão, de 52 anos, nascida em Coroaci (MG) e há 22 anos na região, vai disputar a eleição pelo Partido Democrata e defende maior participação:
— O importante é ter voz. Precisamos nos engajar — defende ela, afirmando que os brasileiros se dividem entre os dois partidos.
Para Liliane Costa, diretora do Brazilian American Center (Brace), em Framinghan, os brasileiros são mais conservadores que outros latinos.
— O brasileiro defende a família, é contra o aborto e a legalização da maconha, frequenta a igreja. São posturas mais comuns aos republicanos.
O menor engajamento e as diferenças ideológicas dificultam ações conjuntas com outros latinos. Embora as reivindicações sejam semelhantes, as atuações têm sido separadas.
— A aproximação com os hispânicos seria fundamental para nos dar mais força — afirma Cosme Neles, de Nashua, New Hampshire.
Nas eleições nacionais, os latinos têm cada vez mais peso. Representando 17% da população dos EUA, foram 8,4% dos votos em 2012. Para este ano, especialistas afirmam que o grupo pode ter peso semelhante ao dos negros.
— Queremos trabalhar com os brasileiros, enfrentamos as mesmas situações — conta o mexicano Alejandro Urrutha, diretor interino da Latin United For Action, que faz campanha pela democrata Hillary Clinton. (H.G.B.)
Fonte: Henrique Gomes Batista/ Globo