O escândalo da Petrobras e outros casos envolvendo propinas e desvios de recursos públicos no Brasil levaram o país a ser o que mais perdeu posições no Índice de Percepção da Corrupção 2015 da Transparência Internacional, publicado nesta quarta-feira (27).
O Brasil caiu sete posições no índice em relação ao ano anterior, e ocupa o 76° lugar entre 168 países analisados pela organização não governamental sediada em Berlim e especializada no combate à corrupção internacional.
“O resultado do Brasil não é surpresa. A corrupção foi um dos principais temas discutidos no Brasil em 2015 e também em 2014. Houve muitos escândalos e a descoberta de redes que desviam recursos públicos”, disse à BBC Brasil Alejandro Salas, diretor para as Américas da Transparência Internacional.
O Brasil obteve 38 pontos, cinco a menos do que no estudo referente a 2014. A escala de pontuação vai de zero (setor público visto como extremamente corrupto) a 100 (muito íntegro).
Empatados com o Brasil estão Bósnia, Burkina Faso, Índia, Tunísia e Zâmbia, que também obtiveram 38 pontos e ocupam o 76° lugar no índice.
Com essa nota, o Brasil se situa abaixo da média mundial, de 43 pontos, e também das Américas, que totalizou 40 pontos.
No total, dois terços dos 168 países listados no índice de 2015 têm uma pontuação abaixo de 50.
Mudança em cinco anos
“A queda do Brasil no índice é um mau sinal. Há quatro ou cinco anos, o país era visto como bem-sucedido pela comunidade internacional”, afirmou Salas.
Além de ser, naquele período, uma economia em crescimento, o Brasil, segundo ele, tinha posição mais sólida no grupo dos Brics (que inclui ainda Rússia, China, Índia e África do Sul) por ter “uma democracia funcionando” e estar “na moda” em razão de eventos como a Copa do Mundo.
“O Brasil buscava ser um líder global e se aproximar cada vez mais dos países desenvolvidos, também em termos de governança, transparência e luta contra a corrupção, mas agora está fazendo o contrário: distanciando-se cada vez mais do grupo com democracias mais avançadas, que têm maior controle contra a corrupção. O país está dando passos para trás”, considerou o diretor.
No entanto, nem tudo é negativo, ressalta Salas. Ele diz que a atuação de setores da Justiça brasileira e da Polícia Federal no combate à corrupção, que vem resultando no indiciamento e punição de envolvidos, indica que “coisas estão mudando” no país.
“No México ou na Argentina, a Justiça não atua de maneira tão independente quanto no Brasil”, afirma, acrescentando que seria difícil imaginar políticos e grandes empresários condenados em outros países da América Latina.
“Estou otimista, apesar de o Brasil ter caído no índice. A punição dos responsáveis me faz pensar que há esperança”, diz.
Processos judiciais decorrentes da operação Lava Jato, que investiga o escândalo de corrupção da Petrobras, poderão ajudar o Brasil a frear a corrupção, segundo a Transparência Internacional.
A organização afirma que apenas reformas institucionais “sérias” permitirão acabar com a corrupção no Brasil.
Menos corruptos
Pelo segundo ano consecutivo, a Dinamarca foi o país considerado menos corrupto, ocupando o primeiro lugar no índice, com 91 pontos.
Finlândia e Suécia são, respectivamente, segundo e terceiro, com 90 e 89 pontos.
Apesar da excelente performance, a Transparência Internacional não isenta esses países de práticas de corrupção no exterior.
“Um país com seu setor público não corrupto não significa que ele não esteja ligado à corrupção em outro lugar”, diz a Transparência, citando o exemplo da Suécia.
Uma empresa sueco-finlandesa, com 37% do capital pertencente ao Estado sueco, está sendo acusada de pagar milhões de dólares em propinas para realizar um negócio no Uzbequistão, país que ocupa o 153° lugar no Índice de Percepção da Corrupção.
A Coreia do Norte e a Somália são os últimos do ranking, com apenas 8 pontos.
O estudo da Transparência Internacional é baseado na percepção de especialistas de instituições globais sobre a corrupção no setor público de países.
Fonte: BBC Brasil / G1