terça-feira, dezembro 10, 2024
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Depressão pós regresso: o drama de voltar do intercâmbio

Nos últimos anos, o número de brasileiros que fizeram intercâmbio – para estudar, aprender um novo idioma ou para trabalhar – cresceu muito. Segundo o Instituto de Educação Internacional, a quantidade de pessoas que buscam um período de experiência no exterior cresceu cinco vezes nos últimos 10 anos. Depois de viver essa experiência, chega a hora de voltar do intercâmbio. Após o período, que na maior parte das vezes compreende entre 6 meses e 1 ano, o brasileiro precisa abandonar a vida ao qual teve que se acostumar no exterior e voltar do intercâmbio para o país de origem.
Muitas pessoas mencionam a “depressão pós- intercâmbio”, e para quem pensa que é uma bobagem, vale o alerta: o assunto é tão sério que já é objeto de estudo de psiquiatras e psicanalistas.
Síndrome do regresso

A depressão, dificuldade de se readaptar ou tristeza que abate o intercambista após o retorno ao país de origem é chamada de síndrome do regresso, termo cunhado pelo neuropsiquiatra Décio Nakagawa para designar o “jet lag espiritual” sentido por muitas pessoas ao voltar pra casa. Segundo ele, quando o intercambista parte para o período de intercâmbio, está cheio de expectativas e planos sobre a vida no novo país. O período de adaptação à nova realidade no exterior varia de país para país, mas a média é de 6 meses. Já a readaptação ao país de origem demora em média 2 anos.

Por que é difícil readaptar?
São inúmeras as respostas, e muitas delas são pessoais, pois cada pessoa que vive fora do país por algum tempo vive uma diversidade enorme de experiências que fazem do seu momento único, e o período de voltar do intercâmbio mais difícil. Mas os motivos mais comuns que geram a síndrome do regresso, são:

Sensação de que perdeu o bonde: quando você volta, muitas coisas aconteceram e você não estava lá. Perdeu novidades das vidas das pessoas próximas a você, a cidade que você morava mudou, muita gente passa a não reconhecer mais o seu território.

A falta da novidade: quando você mora num país estrangeiro, tudo é novo. A língua é nova, a atitude das pessoas é diferente, as comidas são diferentes, tudo é novidade. Até uma mera ida ao mercado é algo mais divertido do que no Brasil, pois aqui já conhecemos tudo que lá encontramos: os produtos, as marcas, os preços. No exterior, conhecer tudo novo é uma experiência agradável e ela termina logo que chegamos por aqui.

Amigos de muitas nacionalidades: uma das reclamações mais comuns, é a saudade dos amigos feitos no período de intercâmbio. É comum ter a oportunidade de conhecer pessoas do mundo todo durante o período de intercâmbio e é uma realidade que a intensidade das relações é muito mais profunda quando ambos estão fora do seu país de origem. Em um dia, eram um desconhecidos, no outro são melhores amigos, viajam juntos, dividem experiências cotidianas e fazem laços de amizade muito fortes. A sensação de que pode nunca mais ver essas pessoas que foram tão importantes nesse período, aumenta a depressão pós-intercâmbio.

Adaptar à realidade brasileira: acostumar-se com o dia a dia do Brasil após um período em países da Europa ou da América do Norte, por exemplo, não é fácil. Muitas intercambistas voltam com mais medo da violência e dos assaltos do que quando partiram daqui; reclamam muito dos preços, pois se acostumaram a ter maior poder de compra com menor quantidade de dinheiro; reclamam dos transportes – não é novidade pra ninguém que a qualidade dos transportes públicos no nosso país é deficiente; reclamam da desordem: depois de se acostumar com uma população menos enérgica que a nossa, o barulho, a confusão, as filas e o “jeitinho brasileiro” tomam uma dimensão maior do que se pensa.

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A saudade das viagens: intercambistas viajam muito. Os motivos são diversos: querem conhecer o país de destino (ou os países vizinhos) enquanto tem a oportunidade, conseguem fazer viagens a baixo custo (algo que é difícil por aqui), conhecem vários lugares em uma mesma viagem, conhecem dezenas de pessoas por viagem. Quando voltam ao Brasil, essa realidade muda. Viajar é mais caro, as nacionalidades não se diversificam, e a freqüência cai absurdamente. A saudade das viagens e a vontade de conhecer o mundo só aumentam.

A sensação de “eu mudei”: é unânime – todas as pessoas que fazem um intercâmbio voltam diferentes. Essa mudança é perceptível tanto pelos parentes e amigos, e ainda mais pelo intercambista. Ganha-se em experiências, em independência, em “se virar sozinho”, vivência em um novo idioma ou aprimoramento daquele que já se falava, enfim, uma infinitude de ganhos. Enquanto você criou uma grande bagagem cultural e colecionou experiências, sua família e amigos, mesmo que muito felizes por você, continuaram na rotina de sempre. Muitos relatos aos psicólogos e psicanalistas retornam a esse ponto: é um crescimento acelerado vivido pelo intercambista e as pessoas ao seu redor não o acompanharam, e já não agüentam mais te ouvir falar das mil e uma aventuras que você teve e eles não.

“Voltei a ser comum”: quando você mora fora, você é novidade. É estrangeiro, tem visual diferente, costumes diferentes, fala uma língua diferente. Você é visto como alguém especial e a maioria das pessoas gosta dessa sensação. E ao mesmo tempo, todos do Brasil declaram muita saudade de você, dizem que você faz falta, dizem pra você voltar logo, o que aumenta a sensação de: eu sou especial. Quando retorna, você volta a ser comum. Todo mundo é brasileiro, a saudade que os amigos e parentes sentiam de você é encerrada e muita gente sente falta de se sentir “único e especial”.

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